terça-feira, 15 de outubro de 2013

RELATÓRIO SOBRE AS AULAS DE TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXA

Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.



[da esquerda para direita: eu, Profº Aníbal Pacha e Camila]



Foram três meses de execução, dividindo no cronograma encontros no Atelier do Casarão dos Bonecos In Bust, e cinco últimos encontros diretamente na rua objetivando a pratica das etapas de ABORDAGEM | IMERSÃO | DESPEDIDA do método estudado nas aulas que utiliza Imagens Disparadoras como indutor para produção textual cênica.

As aulas teóricas e práticas (construção de nossos suportes cênicos) eram orientadas pelo profº Aníbal Pacha (ETDUFPA), sob o auxilio de profº Msc. Fernando (ETDUFPA); durante todas as etapas, os encontros tinham seu registro fotográfico executado por ele, que também em muitos momentos acrescentava falas outras sobre o método, com o aval de profº Aníbal.

Percebi que tanto para as alunas que foram até o final da oficina (algumas, por motivos particulares, desistiram pelo caminho) quanto para profº Aníbal, foi um exercício de adaptação. Para nós, a adaptação consistia em adentrar e compreender esse viés cênico –  de Teatro de Animação em Caixas, através do método bem diferente e bastante criativo, embora dificílimo de adentrar, das Imagens Disparadoras; a de Aníbal, em perceber como ele poderia manifestar o conhecimento para diferentes maneiras de percepção que as alunas esboçavam. A meu ver, as alunas que tiveram maiores embates foram Evelyn e eu. Talvez mesmo a que mais se debateu tenha sido eu, devido inúmeras vezes eu dispersar nas aulas e também perguntar em demasia, porque me interessava. Inclusive li todo o livro que Aníbal nos indicou justamente para aprofundar melhor minha compreensão sobre o assunto. A POSSIBILIDADE DO NOVO NO TEATRO DE ANIMAÇÃO de Henrique Sitchin é muito bom, me diverti bastante lendo-o e fazendo alguns apontamentos que pretendo em breve postar no meu blog de teatro.

Devido à dificuldade de adentrar e compreender o método sugerido por Aníbal, exercitei também permanecer com a mente aberta como ele me orientava sempre: “procure não engessar a ideia, percorra o caminho para compreender como funciona. Depois tu utiliza isso como tu quiseres...”. Assim, procedi durante as aulas teóricas e de formatação cênica. Particularmente essa foi a indicação que eu mais gostei vindo da parte de Aníbal. Realmente ele é o professor mais honesto que conheço. Isso fez toda a diferença!

Contudo, houve alguns momentos que eu cogitei desistir do curso, devido a pequenos desentendimentos sensoriais entre a forma que Aníbal repassava o conhecimento, que violentava um pouco minha sensibilidade. Entre mortos e feridos nessa pequena guerra, venceu o Teatro, enfim. Depois de um tempo, conseguimos entender-nos, e as coisas fluíam como tinha de acontecer, pois para minha sorte Aníbal é bastante sensível e amorosamente justo com os alunos. Devido a esses esbarrões eu percebi o quanto eu havia amadurecido no meu caminhar teatral. Embora, acredite ainda haver (muitas) camadas que devo me despir para seguir adiante na arte misteriosa e secreta do Ator. Minha domesticação do espírito já é real, entretanto. E isso é bom para quem deseja jogar-se nesse Fogo do Palco.

Mas percebo que muito além de atuar, o que me seduz mais é compreender e traduzir essas camadas sobre a linguagem cênica para registrar e passar o conhecimento adiante, pois procedendo desse modo eu também vou me compreendendo e evoluindo enquanto ser social e Partícula Divina a transcender. Desde sempre busquei o teatro (e as Artes em geral) como ferramenta para meu autoconhecimento e de interação com o mundo. E o Teatro, como todas as manifestações artísticas servem para isso: domesticar o espirito, sensibilizar o individuo, torná-lo maleável, íntegro, remexer a inteligência e transcender a forma.


Katiuscia de Sá
15 de outubro de 2013, 14:48h.





domingo, 13 de outubro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES – XII

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.

[minha primeira ABORDAGEM desta noite]

Na noite de 11 de Outubro de 2013, aconteceu a última apresentação publica do resultado dos trabalhos cênicos coordenados pelo profº Aníbal, com auxilio de profº Fernando. As alunas Evelyn, Camila e eu percorremos as adjacências do trajeto do Auto do Círio. Nossa atividade iniciou às 19h na Pça. do Carmo, e seguimos para Pça. Frei Caetano Brandão e Pça. do Relógio. Ainda com o intuito de colocar em prática o que me foi orientado realizar nas falas de Aníbal, durante meu primeiro contato com o publico (domingo – 29/09/2013, na Pça. da República). Esta seria minha primeira apresentação sem nenhum recurso de maquiagem usando meus óculos de grau, olhando diretamente nos olhos do publico numa abordagem realmente bastante próxima, corpo-a-corpo de fato. Essa seria a barreira última que eu deveria ultrapassar enquanto atriz... Para uma pessoa tímida, é como uma montanha a ser escalada para ver o sol despontando acima das nuvens, revelando um novo horizonte. Como escolhi experienciar a vida de modo que não violente minha sensibilidade, fui passo-a-passo.

Além de administrar esse estado interior de tensão, havia outro dado que para mim, dificultava tudo. Como profº Aníbal iria participar do cortejo do Auto, os trabalhos de monitoramento e orientações ficaram sob responsabilidade de profº Fernando, e ele nos orientou para fazermos a abordagem de uma forma mais firme, mais racional (no meu ponto de vista). E naquele momento eu estava mais sensorial do que racional..., essa orientação causou-me preocupação, pois eu deveria me ocupar além da escolha dos indivíduos que eu percebesse receptivo (de maneira bem prática), eu teria de atentar em não perder de vista profº Fernando, e evitar me afastar demais das minhas colegas; e também perceber auditivamente o momento do inicio do Auto, pois nós iriamos para o lado oposto ao cortejo. Então novamente o equilíbrio nos pratos da balança: razão e emoção. Foi um exercício difícil no inicio, mas gostei. No primeiro momento eu me perdi de profº Fernando e Camila, então tive que me decidir. Mantive as indicações de Fernando sobre os locais para a abordagem do grupo. Segui sozinha a caminho do outro ponto estabelecido no inicio pelas orientações de Fernando. No trajeto encontrei Evelyn e repassei a ela as coordenadas.

Da minha primeira abordagem, até mais ou menos à quinta, eu me deixei levar totalmente pela intuição, não utilizando muito minha visão periférica para a escolha das pessoas, eu apenas ‘senti’ e me permitia ir à direção que meu coração mandava. Estava me adequando ao espaço e também às sensações que eu deveria administrar dentro de mim. Fui realmente totalmente aberta para o ‘estado de jogo’, e devia o mais rápido possível, encontrar esse equilíbrio no Logos para eu poder pegar o time dos trabalhos naquela noite e também não me deixar abandonar unicamente aos sentimentos. Recordo que já por volta das 16h desse dia, eu já estava bastante tensa e interiormente receptiva ao ‘estado de jogo cênico’, como mencionei em conversa com a colega Evelyn, durante nossa ida à Pça. Frei Caetano Brandão. Ela também disse que algo semelhante aconteceu com ela.

E encarar as pessoas diretamente nos olhos era o que mais me preocupava. Senti-me como que vencendo um fantasma que sempre me cerca. Devido meu comportamento de não encarar muito os olhos das pessoas em primeiro momento, na maioria das vezes posso passar a impressão de ‘antipática’, ‘metida’, ‘esnobe’, ‘arrogante’, etc..., quando na verdade, trata-se apenas de timidez mesmo, que vai se dissipando aos poucos, assim que me acerco das pessoas, situações e de lugares novos onde adentro, deixo-me ir pelo meu tempo interior. Sempre fui muito observadora e prudente com as coisas/pessoas, sou bastante sensível e doso o que absorver para meu interior. Cuido de minha psique com o mesmo zelo com que cuido de meu corpo físico, é algo que pratico desde a infância, justamente por eu ser muito frágil a essas ‘energias’.

O fator DESPEDIDA, em minha abordagem ainda não estava definido. Como me permiti iniciar os trabalhos da noite unicamente pela intuição, foi incrível! Minha primeira aproximação (foto) me deu as respostas que eu precisava. Após a IMERSÃO do senhor, ele quis estabelecer conversa comigo sobre o que havia visto. Eu deixei. Então de sua própria fala conclui qual seria minha frase final e de efeito fixador do mini-espetáculo para as pessoas; e nisso decidi olhar diretamente nos olhos do espectador quando eu executasse a DESPEDIDA. Então derrubei todos os tijolos da parede... E realmente foi bastante emocionante esse contato com as pessoas. Posso dizer que depois da minha primeira apresentação, em 97% das demais, eu consegui tocar o publico como eu deveria. Foi lindo. E percebi que imediatamente cresceu um magnetismo no meu entorno, que em primeiro momento (literalmente) atraiu as pessoas para perto de mim. Várias delas queriam ver o espetáculo que eu carregava, e foi nesse instante que eu perdi de vista profº Fernando e a outra participante.

Nesse ponto agora, eu tive de administrar as coisas que mencionei em paragrafo acima: equilibrar emoção/razão; utilizar minha visão periférica e poder de decisão individual em prol dos trabalhos coletivos executados pelo grupo naquela noite. Graças a Deus isso se deu rápido. Acredito que o que me ajudou muito foram as orientações iniciais de Fernando, que falou de forma seca e sólida, suas palavras formaram a ancora que eu-atriz deveria manter firme para não me perder nos trabalhos.

Durante toda noite Fernando foi rígido comigo e com Evelyn, mas naquele momento, por mais que o achássemos antipático e implicante, eu particularmente compreendi o que ele queria, então também administrava as emoções dentro de mim em prol dos trabalhos da noite. Contudo, percebo que a sensibilidade de Aníbal durante as aulas faziam com que ele percebesse qual abordagem funcionava com as alunas. Recordo-me que na penúltima aula no atelier, ele e Fernando me bombardearam de perguntas de forma muito rígida e agressiva, e após perceber que não surtiu o efeito esperado, Aníbal gentilmente me disse: “tu não funciona dessa forma, não é?”. Eu apenas acenei com a cabeça prestes a chorar. Acho que depois disso Aníbal foi sempre mais delicado quando precisava me repassar algo por meio da Doxa.

Ele com seus anos de experiência de mestre, conseguiu estabelecer diálogo. E eu percebi que alcanço o amadurecimento necessário para meu oficio de atriz. Acho que se completou o ciclo que profª Karine Jansen me disse em avaliação final ainda no meu 1º ano no Técnico em Ator. Lembro-me que ela igualmente a Fernando, também me era muito rígida e demasiada exigente; gerando em mim uma certa antipatia e afastamento. Mas quando ela proferiu na frente de toda turma, sua avaliação em relação ao meu trabalho na peça "Tayo To Ame", que foi o seguinte (nunca esqueço): "Katiuscia já é 95% atriz...", eu segurei minhas lágrimas de emoção. Pois vindo dela tais palavras, pra mim significou muito. Ouvindo isso, achei que eu podia seguir adiante no ofício, que teria capacidade de continuar no caminho... Agradeço muito a Aníbal por mais essas experiencias. Elas me trouxeram uma visão mais ampla sobre mim mesma e enquanto compreensão da linguagem cênica, e também confirmou meu amadurecimento.


Outro momento que gostei muito, (mesmo contrariando as indicações de Fernando), foi quando Evelyn e eu jogamos simultaneamente. Apresentamos nosso suporte uma para a outra. Eu adorei ver minha colega atuando. Fomos generosas uma com a outra. Adorei perceber sua mudança corporal e facial, perceber e reconhecer sua energia cênica. O mesmo eu fiz para ela. E nós atores sabemos que nesse momento do ‘estado de jogo’ repassamos uns aos outros o que temos na bagagem sobre a nobre arte secreta da interpretação. Amei esse momento. Ficou no meu coração para sempre! E isso me fez recordar como um relâmpago outras passagens que tive com meus professores da Escola de Teatro. Estão todos no meu coração. É incrível, carregamos conosco essa espécie de herança que nos é repassada tipo de mestre para discípulo... O mesmo fiz com Camila após o término dos trabalhos da noite, por volta das 21h, por conta do toró que se abateu. Esse também foi um exemplo de fator externo e susceptível ao qual o artista quando se apresenta na rua está propenso: as adversidades naturais sempre nos fazem mudar os planos. Mas isso também faz parte do espetáculo.

Aqui finalizo meus Diários de Atividade acerca do método das IMAGENS DISPARADORAS estudadas durante as aulas do Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenado pelo profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.


Hellen Katiuscia de Sá.
13 de outubro de 2013, 17:57h.






terça-feira, 8 de outubro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES XI

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.




Durante a aula prática ocorrida no domingo último (29/09/2013) na Pça. da República (Belém/PA), dei inicio ao procedimento de ABORDAGEM, IMERSÃO e DESPEDIDA junto aos transeuntes. Os professores Aníbal e Fernando acompanhavam e observavam de longe minha aproximação com as pessoas. Em alguns momentos Aníbal, em reservado, interferia com suas falas explicativas orientando-me para questões pertinentes ao processo de abordagem. Além disso, questões técnicas também tiveram de ser resolvidas ali mesmo na hora, tais como o remanejamento da iluminação para outro ponto do meu suporte; também fui orientada a não utilizar óculos escuros (pois prejudicaria no momento do “contato” com o publico, e também eu deveria estar usando meus óculos, pois com minha miopia de quase 4 graus eu deixava passar muitas oportunidades para estabelecer contato com as pessoas...). Nesta aula prática eu também experimentava como manusear meu suporte.

Eu senti um leve medinho antes do inicio das abordagens; pois fazer Teatro Mambembe de rua difere do Teatro de Caixa (teatro em prédio fechado), bem como de Teatro de Arena, e de intervenções e performances. Mas esse tipo de Teatro de Animação em Suporte de Caixa cujo contato com as pessoas literalmente é bastante próximo, realmente foi minha primeira vez. E o que apavora o ator tímido (mesmo os experientes) é essa abordagem e aproximação LITERALMENTE cara-a-cara com o publico... tudo pode acontecer. Tudo é inesperado. Tudo é inusitado. O ator deve estar primeiramente ‘disponível’, ‘aberto’ para o ‘Jogo’. E também, já ter amadurecimento suficiente (ou ter uma baita cara-de-pau) para aproveitar as falas dos indivíduos para induzi-los ao objetivo, que são os passos seguintes do método estudado aqui – a IMERSÃO e DESPEDIDA. O ator também deve ser um ótimo ‘jogador’ para manusear e transformar as ‘energias’ de cena como bem entender.

E essa foi a primeira vez que eu não utilizei nenhum recurso de maquiagem como link psicológico indicando-me para mim mesma que eu não era eu, eu era a personagem. Acho que neste ‘jogo’ em particular, existia uma linha muito tênue mesmo com minha personagem, agora pela primeira vez de cara limpa enfrentando o púbico. O estranho que mesmo com essa tensão, havia um quezinho de serenidade em mim. Mas ainda devo superar outro ponto: encarar o palco olhando o mundo pelas lentes de meus óculos de grau... Em oito anos de atividades teatrais eu sempre vi tudo embaçado. Isso me ajudava bastante na hora de encarar o ofício de atriz. Mas acredito que já está na hora de me libertar disso também. Para quem já fez inúmeros trabalhos nus (o que é o terror para todo ator/atriz em principio), ver o mundo como ele é, não deve ser pior do que a tensão que experimentei na manhã deste domingo no parque...

Além disso, nessa mesma manhã eu era única aluna escoltada pelos professores Aníbal e Fernando, as demais alunas não foram por motivos particulares. O que me fazia sentir quase abandonada na cova dos leões... mesmo assim fui, com o coração na mão e a confiança em algum lugar no passado... Isso que eu chamo de jogar-se mesmo! Foi uma experiência sem precedentes. Depois da tensão, eu me senti como um anjo cego enviado por Deus num terreno desconhecido, a fim de levar um punhadinho de Luz aos corações abertos que queriam isso. Foi uma manhã poética para mim. E quando tudo terminou, eu ainda levava comigo o semblante das pessoas que se sentiam mais alegres ao contemplarem o que havia dentro de minha caixa. Foi reconfortante. Durante o restante do dia essas pessoas ainda estavam comigo. Foi lindo sentir isso tudo.

As reações das pessoas foram as mais diversas possíveis, mas em geral elas saiam felizes após assistirem a exibição do mini-espetáculo de animação dentro do meu suporte (então concluo que meu objetivo fora alcançado). A seguir relatarei as situações que mais me chamaram atenção e que contribuíram para a construção da fala de minha personagem, e também para estender o ‘Jogo Cênico’ com o publico, perceber o quê funciona e o quê não funciona. Lembrando que meu suporte é uma representação estilizada do Palácio dos Planaltos de Brasília/DF, com algumas imagens externas ao suporte que dialogam com o texto inicial de ABORDAGEM da minha personagem. E devido às reações das pessoas ao contato com esse tipo de teatro, abria-se para mim um ótimo momento para refletir sobre meu ofício enquanto encenadora. Então eu as observava e pensava: “o que eu tô fazendo aqui?”

SITUAÇÃO UM:
Três jovens (duas moças e um rapaz), estão parados em grupo, me olham e eu aproveito; aproximo-me e dou minha fala abrindo espaço para ABORDAGEM. Consegui a imersão dos três. Todos olharam no suporte (insistiram, até!), mas a DESPEDIDA não foi bem planejada. Eles ficaram tão interessados no que experimentavam que perguntavam o que era aquilo, então tive de me distanciar de minha personagem, e apenas lhes disse tratar-se de ‘Teatro de Animação em Caixa’, e nada mais. Contudo, queriam saber mais sobre esse tipo de teatro, eu apenas resumi como sendo mais uma modalidade de Teatro na contemporaneidade, e disse-lhes que minha apresentação era uma aula que eu estava tendo naquele momento, monitorada pelo meu instrutor. Eles responderam: “legal...”, então me despedi, com eles dizendo: “boa sorte!”. Nisso eu concluo que minha DESPEDIDA não foi a adequada ao jogo cênico, pois tive de me distanciar para explicar o que eu estava fazendo enquanto intérprete. Eu acho que naquele momento eu não devesse quebrar a Quarta Parede tão profundamente a ponto de abandonar minha personagem para responder às perguntas dos jovens... mas acredito que minha pré-disposição para docência burlou tudo, e eu me via no dever de responder ao interesse deles pela questão.


SITUAÇÃO DOIS:
Um casal parado num canto comendo algo... abordei a senhora, que (meu Deus!), apresentou-se totalmente apática. Não conseguiu adentrar no suporte, nem o quis. Mesmo com minhas tentativas de ABORDAGEM. A mulher parecia nem saber por que estava ali... não sabia nem por que nascera... foi bastante frustrante, mas dei-lhe bom dia, e segui. Enfim. Naquela manhã de domingo eu pude experimentar todo tipo de reação das pessoas. Mas desta senhora, confesso que a depressão dela quase se instalou no meu coração... tratei de diluir aquela energia, e tocar adiante. Eu percebi, que com uma abordagem direta como o publico, o artista da cena deve dosar estar ‘aberto’ para o contato, mas também saber se defender dessas ‘energias’ baixas e não se deixar contaminar com essas situações adversas. Eu achei que nesse tipo de teatro, é difícil manejar as ‘energias’ e estados disponíveis para a cena. Acho que, assim como Teatro Mambembe é um super exercício para o amadurecimento e manutenção psicológica e psíquica do ator, em variados aspectos, o Teatro de Animação em Caixa também o é, e exige muito do atuante desde o inicio de seu processo linguístico.


SITUAÇÃO TRÊS:
Uma dupla de amigos. Eles passaram por mim num dos corredores super populosos da praça. Havia barulho de bandinha tocando num coreto próximo, do outro lado ao longe, uma apresentação de brega (eu acho), só sei que o barulho e trafego de gente era infernal! Mas... um dos rapazes olhou favorável para meu suporte e para mim, então aproveitei a chance. Iniciei a ABORDAGEM; o moço estava igualmente aberto para a experiência, e olhou para dentro de meu suporte. Saiu mais feliz ainda de quando se interessou. Apertou-me as mãos, desejou-me um ótimo domingo com um lindo sorriso instalado no rosto. Sua energia foi contagiante! Acho que se demorasse mais um pouco haveria o momento dele me enfiar os braços sobre meus ombros e me arrastar pra tomar uma cerveja e bater um papo... de tão próximo que ele ficou de mim. Ele alcançou de imediato o que as imagens de dentro de meu suporte falavam. Mas foi engraçado.


SITUAÇÃO QUATRO:
Uma família (pai, mãe e um casal de filhos ainda garotos). O pai de família olhou para minha caixa, aproveitei a deixa e quando segui na sua direção, o homem foi tão espontâneo! Ele desesperadamente se esquivava dizendo: “Não! Não vem não. Afasta isso de mim... aí só tem ladrão...”. E ao nosso redor sua esposa e filhos se divertiam com a situação. Então eu aproveitei a própria fala e reação do homem para persuadi-lo a interessar-se em olhar dentro do suporte. Ele foi favorável, embora ainda bastante desconfiado. E foi interessante eu acompanhar a mudança tensa de postura corporal do homem e relaxamento do semblante dele em relação ao apresentado dentro do meu suporte. Eu confesso que esse foi, (de todos), o momento em que eu me emocionei de fato. Pois o homem estava visivelmente contrariado à minha ABORDAGEM. E vê-lo se transformar na minha frente, perceber seu rosto feliz e até mesmo com rascunhos de esperanças... Naquela manhã eu havia tocado alguém, e para mim, meu oficio enquanto artista da cena, valia à pena... não há nada comparado quando um artista consegue estabelecer esse ‘contato’ com alguém a ponto de fazê-lo mudar de paradigmas através de sua própria emoção, leitura de mundo e experiência sensorial quando ele (publico) consegue comunicar-se com o que está sendo apresentado pelo artista. Ocorre um ‘dialogo’, uma troca de experiências, de energias... Eu fiquei bastante feliz. Muito emocionada. Cumpri meu papel no mundo naquele ínfimo momento perdido no tempo e na memória de ambos.


Katiuscia de Sá
Escrito em: 30 de Setembro, 01, 04 e 08 de Outubro de 2013.
14:51h. *ouvindo “Warm Air” (Vanessa-Mae).



terça-feira, 24 de setembro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES X

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.


Durante duas semanas inteiras eu fiquei às voltas com meu suporte. Estudei as possibilidades visuais do lado de fora dele, que contribuíssem com a dramaturgia da estória e com a composição para minha personagem – sendo esta o segundo elo de ligação entre o publico e o espetáculo apresentado dentro do suporte cênico (pois o primeiro elo de ligação, acredito ser o próprio suporte que já despertará no publico o interesse, abrindo caminho para a ABORDAGEM, IMERSÃO e DESPEDIDA).

Desde o inicio do aprendizado deste método, eu senti muita dificuldade para alcançá-lo, entretanto, graças a minha prática diária de Hatha Yoga acrescida de extensos períodos de meditação; esforço de observação; de mente vazia e disponível para ancorar o processo estudado nas aulas... cheguei às minhas conclusões e fechamento de minha personagem e também do visual fora do meu suporte. Atualmente estou desenhando nele as imagens que ajudarão amarrar a dramaturgia e que também dialogam com minha personagem.

Para aprofundar ainda mais minha compressão sobre o método ensinado pelos professores Aníbal e Fernando, (e também para redigir o relatório pedido por Aníbal) fui à biblioteca da ETDUFPA ler trechos do livro A POSSIBILIDADE DO NOVO NO TEATRO DE ANIMAÇÃO, de  Henrique Sitchin – leitura obrigatória que Aníbal indicou à turma para adentrarmos afundo sobre o processo criativo das IMAGENS DISPARADORAS, termo inicialmente citado por Maurício Kartun. A leitura está sendo agradável, (e como estou achando o livro interessante, acredito que o lerei na íntegra e não apenas trechos pertinentes ao método), mesmo porque fico ouvindo musicas durante a leitura. Isso me ajuda a concentrar e também entrar noutra sintonia mental. Também reforça minha associação de que o momento de leitura/estudo é algo prazeroso (enterrando para sempre meu trauma de infância de quando eu era forçada a ir para escola ler e estudar coisas que não me interessavam...). Minha mente trabalha melhor através de associações de imagens, sentimentos depurados, estímulos de sons, lembranças, movimentos, jogos, etc... flui que é uma beleza!

Além da leitura do livro atualmente, também tentei organizar as anotações do “Caderninho Amarelo de Hellen Katiuscia de Sá”... que é um verdadeiro bacalhau! Há rabiscos; garranchos; desenhinhos nas beiradas das paginas; pedaços de folhas rasgadas dependuradas; papéis amarrotados; recortes outros embutidos. O caderno quase respira com dificuldades... mas em meio ao meu vendavalzinho de possibilidades, eu me encontro e me divirto.

Confesso que à medida que ia lendo as descrições dos exemplos que Henrique Sitchin narrava em seu livro, imediatamente eu atrelava esse processo criativo indutor à criação de roteiros para Stop Motion! Como há dois ou três anos para cá minha mente pensa e vive intensamente Cinema (de animação principalmente!). Achei incrível como as imagens disparadoras (através de associação de duas imagens distintas, formando uma terceira que gera uma tensão dramática através de respostas múltiplas, pode acionar!). Bem que professor Aníbal disse que esse método serve para outros indutores. Acredito que o utilizarei mais para criação de roteiros para Stop Motion e/ou como  possível caminho de Leitura e Desenvolvimento do Olhar, para meus futuros alunos.



Katiuscia de Sá
24 de Setembro de 2013, 14:08h.


domingo, 15 de setembro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES – IX

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.





Na aula de hoje, (domingo - 15/09) a turma continuou a finalização de seus respectivos suportes e as integrantes também evoluíram para enriquecerem seus personagens externos. Eu ainda flutuo muito nesse aspecto. Hoje sentei com profº Fernando e ele executou algumas induções acerca de minha (suposta) personagem (que eu ainda oscilo, não sei exatamente quem seja); entretanto, as suas induções me auxiliaram a compor meu suporte do lado de fora, que eu compreendo que enquanto eu não o finalizar com suas metáforas visuais, necessariamente eu não encontrarei minha personagem externa.

Hoje levamos nossos suportes para casa, e percebo que o meu ainda não está finalizado. No meu quarto eu o observo, analiso, estudo algumas possibilidades imagéticas... para compreender qual metáfora visual ele ainda necessita para dar ‘passagem’ à minha personagem. E nesse processo eu recorro à terceira aula quando Aníbal nos falou sobre a linguagem plástica para compor nossas caixas. Analisando meu suporte em casa, talvez eu tenha encontrado algo para ajudar no desenvolvimento da composição visual dramatúrgica, e por consequência ajudar dar ‘passagem’ à minha personagem. Mas tudo ainda é experimentação, tentativas. Continuarei explorando meus estudos sobre esse ponto.

Não estou tão em crise quanto estava na aula passada. Sinto-me em paz, em harmonia, devido minhas horas de meditação e Hatha Yoga; e acredito que por isso mesmo esse método criativo de Teatro de Animação em Caixas está sendo assimilado com outra velocidade e intensidade. O intrigante é perceber que começo a adoecer... isso sempre acontece quando estou às voltas com atividades ligadas ao Teatro, minha garganta sempre inflama (às vezes até perco a voz; e isso é um dado que reforça minha preferencia ao exercício do Teatro Físico... pois normalmente não requer o uso da voz). Essa curiosidade deve está ligada ao fato de eu ter que superar sempre minha timidez para executar minhas atividades teatrais de contato direto com o publico, e isso afeta em cheio meu Chacra Laríngeo; é minha reação somática ao ter que lidar com minhas tensões para trabalhar essas energias. Já evolui bastante, não sinto mais medo do palco (como no inicio, há oito anos atrás), não fico nervosa, até me divirto bastante e curto entrar em estado de ‘jogo’, e me proponho estar sempre ‘disponível’ para esses processos. Eu enveredei pelo teatro justamente com esta finalidade: superar minha timidez e desenvolver minhas capacidades comunicativas e de interatividade. O Teatro é um incrível portal consciente para o autoconhecimento.

Nossas próximas aulas serão na rua, com o contato direto com o publico. A meu turno continuo investigando meu suporte, tento escutá-lo para alcançar qual metáfora visual ainda está faltando para a ligação dramatúrgica e para ancorar minha personagem.


Katiuscia de Sá
16 de setembro de 2013, 00:48h.




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES – VIII

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.





Cheguei atrasada na aula passada e assim que pisei em sala avisei logo Aníbal de que eu estava ainda mais dispersa do que na aula anterior... acho que eles perceberam que me bombardeando de perguntas apenas iriam superativar meu lado racional e lógico, dificultando eu entrar em sintonia com eles (como aconteceu na aula passada); então eles apenas mencionaram o procedimento que eu deveria ter em relação ao desenvolvimento da dramaturgia. Essa clareza das ideias me levou naturalmente ao estado de jogo com eles e a turma, sem maiores esforços.

Estou (por hora) meio que limpando e arrumando o sótão... jogando fora o que não preciso mais. Estou dispersa devido aos períodos meditativos aos quais me dedico plena e profundamente atualmente, e minha dispersão nada mais é do que minhas portas e janelas escancaradas com a luz invadindo. Estou como um dia no campo cheio de ventanias, luz do sol, passarinhos, verde, brandura, leveza... uma criança feliz correndo livre nos Campos do Senhor; e por isso não me policio muito como de costume. Não estou pensando tanto por esses dias. Abraço tudo sem distinção. Esse aspecto interior me ajudou a entrar logo em ‘estado de jogo’ com os professores e a turma, e juntei o quebra-cabeças que Aníbal e Fernando se esforçaram a me explicar na aula anterior; a Doxa foi semeada, enfim.

Confesso que nem fiquei tão feliz assim pela compreensão deste ultimo passo do método. Pois, tanto eu quanto as outras integrantes da turma entramos em crise (já não bastavam minhas constantes crises existenciais...). O que eu achava difícil no inicio do processo, ficou ainda pior. Quem sou eu dentro da dramaturgia que eu desenvolvi? Que personagem de ligação eu dou ‘passagem’ agora? Em meio a esta crise de identidade momentânea, entretanto, alcancei a resposta para minha duvida fomentada na aula passada: sim, eu posso sair do meu roteiro cênico para anexar um elemento de ligação dramatúrgica ao meu projeto. Mas e aí? Quem sou eu nessa representação? Uma das alunas se encontrou, eu e as demais ainda estamos buscando esse hiato.

Eis nosso ‘dever de casa’ para as próximas aulas que serão aos domingos, (para entrarmos nas fases de abordagem; imersão; e despedida com o público). Quem é artista sabe que há períodos que não temos mais família, nem final de semana ou feriados; existe apenas o ‘Fogo Palco’. A dedicação, disciplina e estudo são um sacerdócio para o ator/atriz/bailarino(a).  São nossas raízes que o publico não vê, pois sempre oferecemos nossas flores mais belas. “Todo artista deve ir onde o povo está...”


Katiuscia de Sá
14 de Setembro de 2013, 03:02h.
*ouvindo na madrugada “Tempo Perdido” – Legião Urbana.



*Fotos do processo de papietagem de meu suporte em caixa, assistido de perto pelo profº Aníbal.








DIÁRIO DE ATIVIDADES – VII

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Prfº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.




Cheguei hoje na sala de aula super dispersa... E acredito que pela experiência dos professores Aníbal e Fernando – eles, logicamente, perceberam isso de imediato, e me ‘chamaram’ para dentro da aula de uma maneira bastante enérgica. Bombardearam-me de perguntas acerca ainda da minha construção dramatúrgica. Várias perguntas que me deixaram confusa e levantaram duvidas sobre o que eu já havia decidido (?), e também surgiu outra questão pra mim, em particular: eu posso fugir do texto, mas não do contexto, para formatar minha personagem do lado de fora da caixa? (eu acho que pelo andar da carruagem eu vou utilizar esse processo à minha maneira mesmo, futuramente). Mas vamos ao passo-a-passo sugerido pelos professores.

E haja bombardeio deles até eu reagir. Reagi de forma lógica (de minha parte não haveria outra maneira), argumentando e pensando, até perceber que se tratava do ‘jogo’ que eles queriam que eu entrasse em sintonia, como aconteceu nas outras aulas. Embora achasse muito agressiva e até um pouco brutalizada a abordagem deles, e mesmo assim consegui entrar muito pouco em estado de jogo. Pois quando se é ator(atriz) estamos (pelo menos precisamos estar) ‘disponíveis’. Tentei ficar disponível, e a compreensão me veio feito um fiozinho bem translucido e amarrou-se num lacinho em algum lugar na minha mente, mas tá ainda flutuando dentro da minha cabeça... acho que era a tal da Doxa se manifestando...  o conhecimento está como pequenas peças de um quebra-cabeça, flutuando aparentemente desconexas, mas estão ali.

Como estou me desligando de certas pessoas, lugares, lembranças, situações, etc... estou mesmo bastante dispersa por esses dias. Estou meditando muito, remexendo energias realizando exercícios de desapego. Estou esvaziando meu copo para uma água de outra natureza se derramar sobre mim. Estar apita a caminhar adiante com o peito aberto para o Novo. Estar preparada para novas pessoas, novos lugares, novas situações na minha vida. Acredito que na próxima aula de Teatro de Animação em Caixas estarei mais conectada em sala. Tentarei focar mais.



Katiuscia de Sá
09 de Setembro de 2013, 20:27h.

DIÁRIO DE ATIVIDADES – VI

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.




Foto que deu origem ao texto-base (abaixo), que resultou na dramaturgia para meu projeto em desenvolvimento nas aulas de Teatro de Animação em Caixa, com os professores Aníbal Pacha e Edson Fernando. (Claro que meu texto tinha de ser ficção e imersa no universo fantástico...).


A MOSCA AZUL (texto-base a partir da leitura da foto escolhida acima).

No instante certeiro, quando o sol estava no cantinho do céu, os tripulantes do planeta “Vergume” desceram no Planalto Central, em Brasília. A nave ao aterrissar queimou a vegetação que havia em volta, porque eles viajavam no tempo e a alta velocidade gerava um fogo ao redor da nave e por isso consumia tudo que encontrava pela frente.

Os tripulantes ao saírem do OVINI caminharam um pouquinho e deram de cara com alguém  que ia ao trabalho; então a Relações Publicas (que era a única tripulante bilíngue) pediu ao transeunte para fotografa-los, pois seria o primeiro registro daquela expedição no Tempo em viagem intergaláctica, que tinha a finalidade de exploração. Eles buscavam um terreno para servir como pista de pouso para as futuras naves desceram ao planeta Terra.

O Capitão, a Relações Publicas e o Cientista da expedição estavam felizes por desembarcarem. Entretanto, cada um tinha um motivo particular ao aceitarem a missão. O Capitão queria tomar banho de sol pelado, pois no seu planeta de origem não existia um sol amarelo como visto no planeta Terra;  a moça bilíngue queria ficar um dia inteiro invisível e transitar por entre as pessoas para aprender como os humanos se comportavam em sociedade; o Cientista queria encontrar a Mosca Azul – inseto responsável por transformar os sonhos em realidade.

Mas, passados dois dias as coisas não foram bem como eles esperavam. O capitão tomou tanto banho de sol que teve que trocar de pele, e também tomou muita água e isso fez esticar bastante sua barriga; a Relações Publicas ficou triste ao notar que seus pés ao pisarem no chão, faziam morrer toda a vegetação ao redor de si. O cientista, porém, encontrou sua Mosca Azul.


Katiuscia de Sá
26 de agosto de 2013, 17:35h.


DIÁRIO DE ATIVIDADES – V

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.







Dando prosseguimento ao Diário de Atividades nos solicitado pelo professor Aníbal, para registro de todo nosso processo pessoal de aprendizagem nas aulas de Teatro de Animação em Caixas, relato que após me recuperar de meus dois dias à deriva de um esgotamento psicofísico (por conta de acumulo de outras atividades fora essas aulas), minha estafa mental me deu uma trégua... meu rendimento na aula de hoje foi satisfatório. Ainda não estou 100%, mas já bem melhor do que eu estive de sábado passado até o ápice de segunda-feira, quando eu achei que ia mesmo apagar... esse foi meu quarto esgotamento mental que tive ao longo de oito anos de minhas atividades artísticas. Eu sempre vou até meu limite, acho que é um traço pessoal. Enquanto posso caminhar, sigo adiante. Tenho certeza que o dia que eu partir dessa vida, eu estarei ou em cima de um palco, ou num Set de filmagem. Partirei feliz, ao menos!

A aula de hoje foi muito divertida! A turma ficou ocupada com atividades manuais. Confeccionamos uma parte da cenografia de nossas caixas. Estão surgindo trabalhos muito bonitos. Eu já imaginava que seriam, pois os textos produzidos pelas minhas colegas foram de grande qualidade, em minha opinião. Havia também uma formanda da Licenciatura Plena em Teatro (UFPA) entrevistando profº Fernando acerca do Teatro de Animação em Caixas, e depois ela ficou nos observando quase a aula toda para colher informações para seu TCC e também observar a condução de profº Aníbal.

Posso dizer que as primeiras aulas foram horrivelmente árduas, nos deixando confusas, pois tínhamos que compreender o método indutor, seguindo os seguintes passos:
1 – Tema e subtema;
2 – “imagens disparadoras”;
3 – redigir o texto-base para o roteiro teatral, a partir do passo (2);
4 – encontrar a essência do texto;
5 – transformar texto em imagens que falem ao publico;
6 – amarrar a dramaturgia através da composição cenográfica conforme as imagens do passo (5);

Após a aula fui ao cinema assistir “Sede de Paixões”, de Ingmar Bergman, mas o bravíssimo cineasta que me perdoe... saí da sessão após 40 minutos de seu filme, não suportei aqueles personagens neuróticos, mulheres idiotas, homens machistas e imbecis imersos em seus dramas passionais. Tenho profundo desprezo por esses joguinhos de gato e rato entre homens e mulheres. Não alimento isso na vida real, que dirá no cinema. Gente atormentada movida por paixões desenfreadas, levando suas vidas para o buraco... nem na ficção! Recupero-me bem de meu esgotamento, e retornei ao meu estado original: meu cérebro reina em absoluto novamente como um lindo sol de verão num céu nordestino, e aquele feitiço sentimental apartou-se de mim...

Graças a Deus raciocino novamente e assimilo a vida bem claramente (como eu gosto e prefiro). O filme que fui assistir ontem ("Srta. Julia", de Alf Sjöberg) eu ainda consegui digerir, mas a muito contragosto, pois o tema também girava em torno de crises passionais... e essa repulsa é sinal de que me recupero bem de meu esgotamento mental. Não desmerecendo os filmes citados, que indubitavelmente são obras-primas da Sétima Arte, mas o enredo deles é que me desagrada e acho enfadonho, esse tipo de trama gera-me desinteresse. Hoje fui assistir o filme de Bergman, pois o próprio professor nos indicou as obras desse cineasta para nosso exercício de leitura de imagens visando ajudar no desenvolvimento do olhar para o processo de dramaturgia em Teatro de Animação em Caixa; pois Ingmar Bergman é um dos mestres do minimalismo conceitual utilizando imagens. Mas não deu pra eu assistir “Sede de Paixões”, talvez outro filme com tema menos passional desse mesmo cineasta, eu consiga assistir...

O importante é que todos na turma estamos agora no processo mais divertido da dramaturgia. Eu me sinto muito feliz, pois nossos diálogos estão surgindo em forma de imagens, através de um processo totalmente consciente. Eu posso dizer que consegui compreender o caminho que forma o inteligível da obra, por um meio bem racional e não solto, ao bel prazer da inspiração, para este processo de Teatro de Animação em Caixa, especificamente. Como disse Aníbal pra mim nas aulas anteriores: “tu agora vais estar de posse de outra ferramenta, que tu podes agregar a teu próprio processo criativo. Com o tempo tu mesma vai saber adequar o que tu aprendes agora às tuas necessidades enquanto processo criativo, de repente, em outras coisas”.


Katiuscia de Sá
04 de Setembro de 2013, 23:04H.
*ouvindo (a melodia linda demais) da música: “Getting Away With It” (Eletronic  & Pet Shop Boys).


DIÁRIO DE ATIVIDADES – IV

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.



Nas atividades de Teatro de Animação em Caixa de hoje, além de eu chegar na metade da aula e já ter perdido as explicações preliminares (mesmo já havendo avisado ao professor que me atrasaria), eu estava muito-inteiramente-completamente-intensamente-gravemente-superlativamente esgotada! Quase morta, aliás... tipo: apenas de corpo presente, pois minha mente pensante só desejava minha cama quentinha para fechar meus olhos e apagar de vez! E isso influenciou no meu rendimento na aula. De segunda-feira passada até hoje não tive trégua em minhas atividades. A semana foi puxada tanto nos estudos das aulas de Teatro de Animação, quanto para adaptação/escrita/reescrita/finalização/revisão de um roteiro cinematográfico que vinha trabalhando por esses dias em caráter de urgência. E hoje eu estou à beira de um esgotamento. Contudo, ao finalzinho da aula, consegui evoluir para o próximo passo do método ensinado pelo professor Aníbal.

Foi difícil a imersão. Muito difícil... Mas as metáforas visuais exigidas pelo professor foram chegando à medida que eu compreendia o porquê das perguntas acerca das escolhas dos elementos que gostaríamos que estivessem dentro da caixa. Elas comporão a cenografia e esta será o caminho para a dramaturgia visual acontecer. Realmente no finalzinho da aula, quando eu deixei de raciocinar (devido o cansaço intenso da semana que passou), o sol brilhou no céu da minha mente, e pude linkar tudo. Até falei pra turma sorrindo: “eh! Consegui evoluir hoje! Entendi...”. Realmente eu só consigo assimilar algo quando eu compreendo esse algo, mas se trata de uma compreensão mais profunda, idiossincrásica, uma relação comigo mesma. Esse novo dado se interioriza em mim, fazendo parte de mim, e por isso eu o assimilo e por consequência o compreendo. Torna-se meu, o aprendizado torna-se EU. (Educação Somática).

E também, hoje me senti estranha o dia todo, não pelo cansaço, mas por uma sensação que não sei bem descrever. Até comentei com um amigo hoje enquanto estive metade da tarde na casa dele, que eu me sentia como se estivesse me despedindo de algo, alguém ou lugar. Como se algo tivesse partido, como se um elo tivesse se rompido. Mas isso não me trazia melancolia e sim sentimento de liberdade. Como se eu pudesse antever que eu voaria pra muito longe... que eu visitaria lugares distantes, onde pessoas me aguardam. Era uma sensação que me intrigava, mas me confortava. Como se alguém ou lugar ou coisa que me prendia por me amar muito e me querer por perto, mas que não me compreendesse o suficiente para me fazer feliz, tivesse aberto as mãos e me deixado ir... e essa sensação acrescida ao cansaço, me deixaram deveras sensível hoje durante a maioria do tempo.

Estou esgotada! Parece que mesmo sendo caminhos diferentes para se desenvolver uma dramaturgia, o trabalho do ator sempre flerta com seus próprios limites corporais e mentais. Nunca me senti tão esgotada psicofisicamente quanto estou hoje. Mas estou muito feliz, pois o sol brilhou no céu da minha mente... e haverá inúmeros verões pela frente.


Katiuscia de Sá
02 de Setembro de 2013, 21:43H.




DIÁRIO DE ATIVIDADES – III

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.




Há três dias reviso minha dramaturgia. Não sai muito do lugar, aparentemente. Engraçado que está acontecendo dentro de meu processo de criação, algo semelhante o que acontecia anos atrás, no período quando eu aprendia Esperanto. Eu estou sonhando com as respostas para minhas interrogações acerca do caminho a percorrer dentro de meu roteiro cênico. Acho que aos poucos me aproximo dessa subjetividade muito delicada e sutil, que o método pede para se poder chegar à essência contida no roteiro cênico.

E acredito que por conta de meu consciente e subconsciente estarem unidos na mesma direção para essa compreensão, eu me sinto atualmente meio que sonambula, sei lá. Como se eu andasse em cima de um muro e de um lado eu enxergasse o concreto das coisas e do outro lado eu enxergasse a sutileza das coisas. Acho que entrei num outro estado. E ainda sinto como se minha mente estivesse completamente compartimentada, fragmentada. Por exemplo: eu penso em algo ou vivo o momento em si (o agora), mas se aparecer outra questão ou pensamento ou algo real relacionado comigo no mesmo instante, o que minha mente estava centrada ‘engaveta’ o que anteriormente eu me detinha e resolvo o que me veio e retorno imediatamente ao pensamento anterior. Antes vinha tudo-de-uma-vez-imediatamente-na-mesma-hora-ao-mesmo-tempo-agora. Percebo meus pensamentos mais organizadinhos, atualmente.

E segundo um dos princípios da Educação Somática, de que tudo está conectado... também atualmente estou às voltas novamente com a linguagem do audiovisual. E esta... realmente não é deste mundo! Sempre compreendi que (realizar) Cinema não é pra quem quer, é pra quem pode. Digo ‘pode’ porque é uma linguagem preferencialmente sensorial ao extremo. E por conta disso minha fala verbal encontra-se bloqueada em alguns momentos (porque a compreensão e via de acesso para o processo criativo do audiovisual se dá por outros caminhos que não é a mesmo da fala/oralidade, é quase uma transmissão de pensamentos (fazendo uma analogia, é claro).

Isso sempre acontece comigo quando estou às voltas com a linguagem do audiovisual. Minha fala verbal não é muito eficaz. Eu penso, compreendo e vejo tudo em imagens mentais e em altíssima velocidade na minha cabeça. Uma compreensão tão veloz que a fala não acompanha em hipótese alguma, então eu fico muda e/ou mais lenta na hora de explicar essas imagens através da oralidade; há muitas vezes que eu nem mesmo verbalizo nada, apenas interiorizo (e depois escrevo). Por isso que uma equipe de produção em audiovisual deve (primordialmente) estar em sintonia o máximo possível uns com os outros antes e durante o Set de filmagem, para fazer acontecer a 'passagem' do filme como obra que está sendo realizada/materializada. É algo mágico. Lindo! Lindo! Algo que emana de alma para alma em todos os envolvidos; por isso a felicidade dos componentes da equipe em contribuir para o nascimento de algo em comum. Fazer cinema é mágico. Sagrado.

Mas atualmente devido eu estar dividida entre: meu processo criativo dramatúrgico para o andamento de meu projeto de Teatro de Animação em Caixa; e também com o desenvolvimento de um roteiro em audiovisual, que deriva de uma adaptação literária... confesso que me sinto num País onde se fala quatro idiomas ao mesmo tempo e eu estou dialogando com os quatro também ao mesmo tempo. O interessante é que cada qual está respeitando o tempo do outro. Acredito que o exercício de observação que o professor nos mandou exercitar constantemente, está me auxiliando a colocar cada coisa no seu devido lugar.

Desde que eu entrei nesse caminho artístico não tive outra intenção, a não ser, desenvolver o máximo possível minhas potencialidades comunicativas, justamente para eu aprender a dialogar com o mundo e interagir melhor com as pessoas, pois sempre fui muito tímida e hermética. E graças a Deus, vou melhorando um pouquinho a cada dia, respeitando sempre meu ritmo.

Acredito que até a aula seguinte eu consiga apresentar ao professor um resultado satisfatório para alcançar o próximo passo dentro de meu projeto de Teatro de Animação em Caixa.


Katiuscia de Sá
31 de agosto de 2013, 14:43H.




DIÁRIO DE ATIVIDADES - II

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.




Atualmente participo de aulas de Teatro de Animação em Caixa, e na ultima aula a turma engatinhou para o subtema que acompanhará o tema principal para a concretização da dramaturgia desenvolvida por cada aluno da turma, essa dramaturgia acontecerá exclusivamente através de associações de imagens e objetos dentro da caixa.

A ultima aula foi bastante árdua! Confesso que essa linguagem está bastante difícil de penetrar. Meu raciocínio compreende o passo-a-passo, mas minha veia sensível (criativa) esbarra no “método”. Sei que minha criatividade flui (muito bem, obrigada...), quando preciso criar algo cujo estopim é simplesmente a inspiração, entretanto, agora ao utilizar um método para guiar essa criatividade, me sinto como se eu enxergasse nitidamente um paraíso à minha frente, porém eu estivesse separada dele por uma parede de vidro. Desde a ultima aula, estou praticando o exercício mental de leitura de imagens diversas no meu dia-dia, conforme indicou o professor.

Hoje voltei logo pra casa, após uma sessão de cinema, justamente para retomar minha pesquisa referente a esta dramaturgia que temos que desenvolvê-la como ‘dever de casa’ para apresentarmos os resultados na próxima aula. Nem me prendi ao filme “AMÉM” (Costa Gravas), que fui assistir ainda pouco. Não consigo me desligar das palavras do professor; essa busca pela compreensão me instiga! E ao mesmo tempo me enche de motivação para desenvolver meu projeto Teatral de Animação em Caixa.

Devo encontrar essa coerência entre o tema central, o subtema e o caminho apontado pelas “imagens disparadoras”. O que me intriga é que eu compreendo o passo-a-passo do método apresentado nas aulas, porém ainda não consigo adequar meu roteiro cênico (estorinha desenvolvida) à dramaturgia necessária. As imagens que preciso dela, ainda não me estão nítidas e por isso não posso avançar para o próximo passo.

Devo mergulhar na essência, sem me perder da linguagem-mãe que me norteia para a construção dos cenários e recursos cênicos que irão dialogar como o publico. Sinto-me um pouco confusa no sentido linguístico nesse momento. Às vezes sinto e penso, mas esse sentir e pensar não encontram caminho para se fazerem entender através da linguagem falada (e o professor mencionou varias vezes que no Teatro de Animação em Caixa o ideal seria a não verbalização como recurso dramatúrgico). Meu cérebro estanca, e eu fico muda. Como se eu devesse tomar uma decisão rápida bem no meio de uma encruzilhada, onde indica quatro idiomas, e eu devesse escolher apenas UM de imediato para eu me fazer compreender...

O que me consola é saber que as demais alunas também se sentem dessa maneira. Percebo que nesse exercício, mais do que nunca, eu preciso estar com meu lado racional e sensível igualados na balança. Até isso minha vida atualmente está em sintonia com o que devo desenvolver pessoalmente. É impressionante como tudo está conectado.

Hoje será uma longa noite de pesquisas e estudos...
Evoé!


Katiuscia de Sá
29 de agosto de 2013, 21:44h.


DIÁRIO DE ATIVIDADES - I

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.


Como são as coisas! Hoje pela manhã, tive de resolver uns probleminhas pra minha tia e fiz meu desjejum na casa dela, sem querer (por total desatenção e esquecimento mesmo)  tomei um copo até a tampa de café. (Oh, no!). E o que aconteceu após uns 40 minutos? Eu estava agitadéééééérrima!!!!! Minha mente estava a dois mil por hora, e meu corpo elétrico por causa da cafeína, e então lembrei: “putz! Tomei café...”

Como sou hiperativa, evito (eternamente) alimentos e ambientes que me remetem (mais ainda) a hiperatividade mental e/ou física quando preciso de meu psicofísico interagindo de forma centrada no meu cotidiano; mas busco estímulos quando preciso desse estado dilatado para o teatro ou dança, atividades que pedem meu corpo preparado para o extra cotidiano (o que não era o caso hoje pela manhã), mas como tudo está conectado.... tive um dia lindamente coerente e muito divertido!

Meu raciocínio acelerado me ajudou muito hoje a tarde durante minha aula de teatro a qual explana e nos ensina uma linguagem teatral e abordagem totalmente novas e desafiadoras pra mim: Teatro de Animação em Caixa. As “imagens disparadoras” levam o ator-criador experimentar caminhos criativos muito diferentes para seu desenvolvimento dramatúrgico – próprio para este tipo de teatro – um processo onde a palavra falada/escrita adormece para emergir imagens como ferramenta comunicativa e de ligação entre o expectador e o atuante.

Essa linguagem corteja um pouco com a linguagem de Teatro de Formas Animadas mais pura e resgata a essência da comunicação humana, e isso pede ao actante outro nível de compreensão e relação com as ideias, coisas e palavras. É um refinamento linguístico impressionante! Talvez se eu estivesse com minha mente e meu espirito blasée, (como normalmente eu fico), eu não alcançasse o raciocínio necessário para compreender a aula de hoje.

E após minha aula fui direto assistir um filme na sessão cult no IAP, pois havia combinado com meu amigo de nos encontrarmos lá. Já havíamos nos falado antes pela manhã, e como nos conhecemos há sete anos, eu notei que ele estava meio fechadão, com o semblante um pouco atormentado. Perguntei varias vezes durante nossa conversa, se ele estava bem, mas ele não quis tocar no assunto. Então o convidei pra assistir GOSTO DE CEREJA (Abbas Kiarostami), e foi certeiro! Eu já havia assistido aos meus 23, pelas mãos de meu ex-marido, e o filme àquela época já havia me falado, e ele igualmente levou uma boa mensagem ao meu amigo dialogando com seu momento atual. E após a sessão, meu amigo e eu ainda conversamos mais de duas horas.

E justamente pela minha agitação mental (por causa da cafeína ingerida pela manhã), meus sentidos e pensamento estavam superlativos, acelerados, cleans, objetivos, retos, me ajudando a mergulhar nos assuntos que conversávamos. Graças a Deus minha linha de raciocínio e fluência verbal estavam tão claros que também fui certeira nos conselhos que lhe dei. Como meu amigo também tem dislexia, nós temos meio que uma forma semelhante de absorver e raciocinar sobre a vida, e por isso mesmo falamos a mesma língua. Eu fiquei deveras feliz em tê-lo ajudado a compreender umas sutilezas que pessoas disléxicas, como nós, possuímos e que precisamos lidar todos os dias, umas coisinhas que ele ainda não havia percebido, e por isso mesmo sofria desnecessariamente em algumas situações. Foi como se eu limpasse as lentes de seus óculos e ele agora enxerga melhor a Luz a sua volta... Ganhei meu dia por causa disso.

No final das contas, meu amigo me levou até em casa e aprofundamos mais ainda nossa conversa. Meu presente de hoje foi saber dele, que o que eu havia dito o fez repensar sobre muitas questões que o angustiavam. Fiquei muito feliz de fato, pois meus amigos são a minha família, mesmo com nossas diferenças de pensamento, religião, convicções, etc., são as pessoas que eu amo, respeito muito e que estou sempre disponível, presente e pronta a ajudar!  Realmente meu dia foi lindo hoje. E viva o café, o Teatro, o Cinema e a Educação Somática!
=)
  
Katiuscia de Sá
26 de agosto de 2013, 23:59h