MESTRADO ACADÊMICO EM ARTES – PPGARTES/ICA/UFPA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO – 1º dia: 18/03/2015
DISCIPLINA: Teatro de
Animação – Prof. Aníbal Pacha
INSTITUIÇÃO: Escola de Teatro
e Dança – Universidade Federal do Pará
CURSO: Licenciatura Plena em
Teatro
DIÁRIO DE ATIVIDADES –
Katiuscia de Sá
De acordo com as indicações do professor
sobre minha postura em sala de aula durante suas atividades, eu devia evitar
interferir em seu processo de abordagem educacional. Por isso o observei dando
a aula na maior parte de tempo possível, e também focando nas reações dos
alunos no evoluir da aula.
PROCESSOS CRIATIVOS EM ARTES (ou experiência artística) & PROCESSOS PEDAGÓGICOS DE ENSINO DE ARTES NAS ESCOLAS
Sob esse foco central durante
minha observação de prof. Aníbal em sala de aula, conclui definitivamente de quanto
as metodologias participativas são importantes no processo de formação de
futuros professores (sejam de Artes ou de outras disciplinas). Como já sou
fruto de um longo processo pedagógico dentro desta própria instituição
(ETDUFPA), como ex-aluna, eu acho muito natural a qualidade afetiva-sensório-perceptiva-participativa
por parte dos professores para com os alunos despertando nestes, também essa
qualidade de troca; porém ao me deparar com o ensino regular nas escolas que
“não são de artes”, ou seja, escolas de ensino fundamental e básico da rede
publica e/ou particulares (nestas ainda há uma melhor qualidade nesse sentido, em
alguns casos), que não promovem o processo de corporeidade do educando para
desencadear a trajetória de ensino-aprendizagem em sala de aula, sinto um
impacto que ainda me incomoda bastante.
Esse impacto é proveniente da
falta de envolvimento humano, que revela em cheio a frieza e desinteresse de
alguns profissionais da educação em realmente querer prestar uma aula de
qualidade com envolvimento afetivo-pedagógico, e isso reflete em cheio na
formação de futuros profissionais da área e/ou indivíduos que dependem deles
para tornarem-se futuros cidadãos ativos, justamente porque por trás de todo
processo social está embutido as “pedagogias invisíveis”, nesse caso quem mais
a exerce são os profissionais que estão em evidencia constante para um numero
de pessoas subordinadas a eles (em maior ou menor grau) durante o processo. Ex:
professores; advogados; chefes de sessões de departamentos; etc.
Mas o foco aqui está na
formação de professores. Gostei bastante da postura de prof. Aníbal em sala de
aula que ao ministrar o conteúdo programático da disciplina, ele o fez de forma
a oferecer para turma uma abertura para esta “construção do conhecimento”, haja
vista que foram feitos acordos de convivência em sala de aula os quais também
poderiam ser revistos no decorrer da disciplina. Ou seja, o que prof. Aníbal fez
no primeiro dia de aula foi dar aos alunos certa autonomia mostrando-lhes a
responsabilidade de suas próprias escolhas para o presente e futuro naquele
espaço de aprendizagem. E isso é importante para o processo formativo do professor
que irá se deparar com obstáculos de ordem afetivo-emocional-comportamental de
seus futuros alunos. Além do conteúdo da disciplina os alunos de prof. Aníbal
estão “aprendendo” de maneira subjetiva, como conversar com seus alunos;
compreender o grau de entrega e participação durante a execução de alguma
atividade; desenvolver o respeito e delicadeza para como o outro, etc.; são
questões fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem em Artes.
Esses quesitos ficam mais acentuados
quando percebemos que os processos
criativos em artes (ou experiência artística) & processos pedagógicos de ensino de artes nas escolas estão
intimamente ligados. Sob essa reflexão veio à tona meu questionamento: para ser
professor de Artes nas escolas regulares de ensino, o profissional deve ser
artista ou ter passado por alguma experiência de construção artística para ter
sua própria abordagem de ensino em sala de aula? A conclusão que eu cheguei,
foi sim (considerei também minha própria experiência enquanto artista e
arte-educadora para chegar a essa conclusão).
O professor de artes deve ser
artista ou pelo menos já ter experenciado algo próximo disso. Porque digo algo
assim? Porque o despertar da sensibilidade não pode ser ensinada e sim sentida,
é um processo individual e íntimo. Contudo, exercícios para despertar a
sensibilidade, a percepção, a cognição, o sentido estético podem ser feitos para
se alcançar esse estado. Desse modo pude fazer um link direto com as atividades
que prof. Aníbal utilizou em sala de aula. Percebi a importância de oferecer
meios para que o pensamento sensível possa ser materializado. Como isso pode
acontecer? Através de atividades lúdico-praticas atribuindo movimento e corporeidade no ato do ensino-aprendizagem. Essa discussão é antiga, também defendida em estudos da Fenomenologia. Segundo o conceito de corpo
em Merleau-Ponty, a percepção adquire o caráter de mobilidade quando o autor
propõe que o conhecimento é gerado e modificado através do movimento físico –
que engloba também os atributos ocultos (alma, pensamento, emoções) – como
dados importantes no ato de perceber o mundo, conforme observa NÓBREGA,
2008, pg. 142:
[...]
a percepção do corpo é confusa na imobilidade, pois lhe falta a
intencionalidade do movimento. Os movimentos acompanham nosso acordo perceptivo
com o mundo. Situamo-nos nas coisas dispostos a habitá-las com todo nosso ser.
As sensações aparecem associadas a movimentos e cada objeto convida à
realização de um gesto, não havendo, pois, representação, mas criação, novas
possibilidades de interpretação das diferentes situações existenciais.
Essa corporeidade muito comum
(e natural) nas crianças quando elas “jogam/brincam” com as informações e
objetos que as circulam é o canal delas para que o processo de
ensino-aprendizagem seja eficaz. Mas com o tempo, o ser humano “cresce” e é
obrigado a se desligar desse processo
natural e isso o deixa limitado em diferentes aspectos cognitivos,
dificultando o desenvolvimento sensível desse individuo.
Prof. Aníbal utilizou recursos para
sensibilização e leitura de imagens; percepção auditiva; imaginativa; corporal
e da fala através de atividades lúdicas que possibilitavam a materialização do
pensamento sensível dos alunos, fazendo-os necessariamente perceber de maneira substancial
o que estava sendo abordado em sala de aula. E para o universo de teatro animação,
essa sensibilidade e (re)conhecimento corporal é importante para o momento em
que o ator e seu títere estiverem em contato antes e no momento da cena. Acredito
que esse é um meio bastante humanizado para o ensino-aprendizado em Artes: a
construção de uma educação sensível, que envolve ao mesmo tempo a cognição e
sentido estético como elementos extras.
Referencias:
BOLSANELLO,
Débora, Educação Somática: investindo na tecnologia interna. 2008. Disponível em: <www.movimentoes.com>.
Acessado em: 24 dez. 2012.
BOLSANELLO,
Débora, Corpo Livre e Corpo Possuído. 2008. Disponível em: <www.movimentoes.com>.
Acessado em: 21 dez. 2012.
NÓBREGA,
Terezinha Petrucia da. Corpo, percepção e conhecimento em
Merleau-Ponty, Estudos
de Psicologia 2008, 13(2), 141-148. Disponível em:
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*fotos: Katiuscia de Sá