quinta-feira, 19 de março de 2015

Relato #1: Estágio Supervisionado à Docência

MESTRADO ACADÊMICO EM ARTES – PPGARTES/ICA/UFPA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO – 1º dia: 18/03/2015 
DISCIPLINA: Teatro de Animação – Prof. Aníbal Pacha
INSTITUIÇÃO: Escola de Teatro e Dança – Universidade Federal do Pará
CURSO: Licenciatura Plena em Teatro
DIÁRIO DE ATIVIDADES – Katiuscia de Sá


De acordo com as indicações do professor sobre minha postura em sala de aula durante suas atividades, eu devia evitar interferir em seu processo de abordagem educacional. Por isso o observei dando a aula na maior parte de tempo possível, e também focando nas reações dos alunos no evoluir da aula.
  

PROCESSOS CRIATIVOS EM ARTES (ou experiência artística) & PROCESSOS PEDAGÓGICOS DE ENSINO DE ARTES NAS ESCOLAS

Sob esse foco central durante minha observação de prof. Aníbal em sala de aula, conclui definitivamente de quanto as metodologias participativas são importantes no processo de formação de futuros professores (sejam de Artes ou de outras disciplinas). Como já sou fruto de um longo processo pedagógico dentro desta própria instituição (ETDUFPA), como ex-aluna, eu acho muito natural a qualidade afetiva-sensório-perceptiva-participativa por parte dos professores para com os alunos despertando nestes, também essa qualidade de troca; porém ao me deparar com o ensino regular nas escolas que “não são de artes”, ou seja, escolas de ensino fundamental e básico da rede publica e/ou particulares (nestas ainda há uma melhor qualidade nesse sentido, em alguns casos), que não promovem o processo de corporeidade do educando para desencadear a trajetória de ensino-aprendizagem em sala de aula, sinto um impacto que ainda me incomoda bastante.

Esse impacto é proveniente da falta de envolvimento humano, que revela em cheio a frieza e desinteresse de alguns profissionais da educação em realmente querer prestar uma aula de qualidade com envolvimento afetivo-pedagógico, e isso reflete em cheio na formação de futuros profissionais da área e/ou indivíduos que dependem deles para tornarem-se futuros cidadãos ativos, justamente porque por trás de todo processo social está embutido as “pedagogias invisíveis”, nesse caso quem mais a exerce são os profissionais que estão em evidencia constante para um numero de pessoas subordinadas a eles (em maior ou menor grau) durante o processo. Ex: professores; advogados; chefes de sessões de departamentos; etc.

Mas o foco aqui está na formação de professores. Gostei bastante da postura de prof. Aníbal em sala de aula que ao ministrar o conteúdo programático da disciplina, ele o fez de forma a oferecer para turma uma abertura para esta “construção do conhecimento”, haja vista que foram feitos acordos de convivência em sala de aula os quais também poderiam ser revistos no decorrer da disciplina. Ou seja, o que prof. Aníbal fez no primeiro dia de aula foi dar aos alunos certa autonomia mostrando-lhes a responsabilidade de suas próprias escolhas para o presente e futuro naquele espaço de aprendizagem. E isso é importante para o processo formativo do professor que irá se deparar com obstáculos de ordem afetivo-emocional-comportamental de seus futuros alunos. Além do conteúdo da disciplina os alunos de prof. Aníbal estão “aprendendo” de maneira subjetiva, como conversar com seus alunos; compreender o grau de entrega e participação durante a execução de alguma atividade; desenvolver o respeito e delicadeza para como o outro, etc.; são questões fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem em Artes.

Esses quesitos ficam mais acentuados quando percebemos que os processos criativos em artes (ou experiência artística) & processos pedagógicos de ensino de artes nas escolas estão intimamente ligados. Sob essa reflexão veio à tona meu questionamento: para ser professor de Artes nas escolas regulares de ensino, o profissional deve ser artista ou ter passado por alguma experiência de construção artística para ter sua própria abordagem de ensino em sala de aula? A conclusão que eu cheguei, foi sim (considerei também minha própria experiência enquanto artista e arte-educadora para chegar a essa conclusão).

O professor de artes deve ser artista ou pelo menos já ter experenciado algo próximo disso. Porque digo algo assim? Porque o despertar da sensibilidade não pode ser ensinada e sim sentida, é um processo individual e íntimo. Contudo, exercícios para despertar a sensibilidade, a percepção, a cognição, o sentido estético podem ser feitos para se alcançar esse estado. Desse modo pude fazer um link direto com as atividades que prof. Aníbal utilizou em sala de aula. Percebi a importância de oferecer meios para que o pensamento sensível possa ser materializado. Como isso pode acontecer? Através de atividades lúdico-praticas atribuindo movimento e corporeidade no ato do ensino-aprendizagem. Essa discussão é antiga, também defendida em estudos da Fenomenologia. Segundo o conceito de corpo em Merleau-Ponty, a percepção adquire o caráter de mobilidade quando o autor propõe que o conhecimento é gerado e modificado através do movimento físico – que engloba também os atributos ocultos (alma, pensamento, emoções) – como dados importantes no ato de perceber o mundo, conforme observa NÓBREGA, 2008,  pg. 142:

[...] a percepção do corpo é confusa na imobilidade, pois lhe falta a intencionalidade do movimento. Os movimentos acompanham nosso acordo perceptivo com o mundo. Situamo-nos nas coisas dispostos a habitá-las com todo nosso ser. As sensações aparecem associadas a movimentos e cada objeto convida à realização de um gesto, não havendo, pois, representação, mas criação, novas possibilidades de interpretação das diferentes situações existenciais.

Essa corporeidade muito comum (e natural) nas crianças quando elas “jogam/brincam” com as informações e objetos que as circulam é o canal delas para que o processo de ensino-aprendizagem seja eficaz. Mas com o tempo, o ser humano “cresce” e é obrigado a se desligar desse processo natural e isso o deixa limitado em diferentes aspectos cognitivos, dificultando o desenvolvimento sensível desse individuo.

Prof. Aníbal utilizou recursos para sensibilização e leitura de imagens; percepção auditiva; imaginativa; corporal e da fala através de atividades lúdicas que possibilitavam a materialização do pensamento sensível dos alunos, fazendo-os necessariamente perceber de maneira substancial o que estava sendo abordado em sala de aula. E para o universo de teatro animação, essa sensibilidade e (re)conhecimento corporal é importante para o momento em que o ator e seu títere estiverem em contato antes e no momento da cena. Acredito que esse é um meio bastante humanizado para o ensino-aprendizado em Artes: a construção de uma educação sensível, que envolve ao mesmo tempo a cognição e sentido estético como elementos extras.



Referencias:

BOLSANELLO, Débora, Educação Somática: investindo na tecnologia interna. 2008. Disponível em: <www.movimentoes.com>. Acessado em: 24 dez. 2012.

BOLSANELLO, Débora, Corpo Livre e Corpo Possuído. 2008. Disponível em: <www.movimentoes.com>. Acessado em: 21 dez. 2012.

NÓBREGA, Terezinha Petrucia da. Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty, Estudos de Psicologia 2008, 13(2), 141-148. Disponível em:
www.scielo.br/epsic. Acessado em: 27/02/2015.


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*fotos: Katiuscia de Sá








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