terça-feira, 15 de outubro de 2013

RELATÓRIO SOBRE AS AULAS DE TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXA

Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.



[da esquerda para direita: eu, Profº Aníbal Pacha e Camila]



Foram três meses de execução, dividindo no cronograma encontros no Atelier do Casarão dos Bonecos In Bust, e cinco últimos encontros diretamente na rua objetivando a pratica das etapas de ABORDAGEM | IMERSÃO | DESPEDIDA do método estudado nas aulas que utiliza Imagens Disparadoras como indutor para produção textual cênica.

As aulas teóricas e práticas (construção de nossos suportes cênicos) eram orientadas pelo profº Aníbal Pacha (ETDUFPA), sob o auxilio de profº Msc. Fernando (ETDUFPA); durante todas as etapas, os encontros tinham seu registro fotográfico executado por ele, que também em muitos momentos acrescentava falas outras sobre o método, com o aval de profº Aníbal.

Percebi que tanto para as alunas que foram até o final da oficina (algumas, por motivos particulares, desistiram pelo caminho) quanto para profº Aníbal, foi um exercício de adaptação. Para nós, a adaptação consistia em adentrar e compreender esse viés cênico –  de Teatro de Animação em Caixas, através do método bem diferente e bastante criativo, embora dificílimo de adentrar, das Imagens Disparadoras; a de Aníbal, em perceber como ele poderia manifestar o conhecimento para diferentes maneiras de percepção que as alunas esboçavam. A meu ver, as alunas que tiveram maiores embates foram Evelyn e eu. Talvez mesmo a que mais se debateu tenha sido eu, devido inúmeras vezes eu dispersar nas aulas e também perguntar em demasia, porque me interessava. Inclusive li todo o livro que Aníbal nos indicou justamente para aprofundar melhor minha compreensão sobre o assunto. A POSSIBILIDADE DO NOVO NO TEATRO DE ANIMAÇÃO de Henrique Sitchin é muito bom, me diverti bastante lendo-o e fazendo alguns apontamentos que pretendo em breve postar no meu blog de teatro.

Devido à dificuldade de adentrar e compreender o método sugerido por Aníbal, exercitei também permanecer com a mente aberta como ele me orientava sempre: “procure não engessar a ideia, percorra o caminho para compreender como funciona. Depois tu utiliza isso como tu quiseres...”. Assim, procedi durante as aulas teóricas e de formatação cênica. Particularmente essa foi a indicação que eu mais gostei vindo da parte de Aníbal. Realmente ele é o professor mais honesto que conheço. Isso fez toda a diferença!

Contudo, houve alguns momentos que eu cogitei desistir do curso, devido a pequenos desentendimentos sensoriais entre a forma que Aníbal repassava o conhecimento, que violentava um pouco minha sensibilidade. Entre mortos e feridos nessa pequena guerra, venceu o Teatro, enfim. Depois de um tempo, conseguimos entender-nos, e as coisas fluíam como tinha de acontecer, pois para minha sorte Aníbal é bastante sensível e amorosamente justo com os alunos. Devido a esses esbarrões eu percebi o quanto eu havia amadurecido no meu caminhar teatral. Embora, acredite ainda haver (muitas) camadas que devo me despir para seguir adiante na arte misteriosa e secreta do Ator. Minha domesticação do espírito já é real, entretanto. E isso é bom para quem deseja jogar-se nesse Fogo do Palco.

Mas percebo que muito além de atuar, o que me seduz mais é compreender e traduzir essas camadas sobre a linguagem cênica para registrar e passar o conhecimento adiante, pois procedendo desse modo eu também vou me compreendendo e evoluindo enquanto ser social e Partícula Divina a transcender. Desde sempre busquei o teatro (e as Artes em geral) como ferramenta para meu autoconhecimento e de interação com o mundo. E o Teatro, como todas as manifestações artísticas servem para isso: domesticar o espirito, sensibilizar o individuo, torná-lo maleável, íntegro, remexer a inteligência e transcender a forma.


Katiuscia de Sá
15 de outubro de 2013, 14:48h.





domingo, 13 de outubro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES – XII

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.

[minha primeira ABORDAGEM desta noite]

Na noite de 11 de Outubro de 2013, aconteceu a última apresentação publica do resultado dos trabalhos cênicos coordenados pelo profº Aníbal, com auxilio de profº Fernando. As alunas Evelyn, Camila e eu percorremos as adjacências do trajeto do Auto do Círio. Nossa atividade iniciou às 19h na Pça. do Carmo, e seguimos para Pça. Frei Caetano Brandão e Pça. do Relógio. Ainda com o intuito de colocar em prática o que me foi orientado realizar nas falas de Aníbal, durante meu primeiro contato com o publico (domingo – 29/09/2013, na Pça. da República). Esta seria minha primeira apresentação sem nenhum recurso de maquiagem usando meus óculos de grau, olhando diretamente nos olhos do publico numa abordagem realmente bastante próxima, corpo-a-corpo de fato. Essa seria a barreira última que eu deveria ultrapassar enquanto atriz... Para uma pessoa tímida, é como uma montanha a ser escalada para ver o sol despontando acima das nuvens, revelando um novo horizonte. Como escolhi experienciar a vida de modo que não violente minha sensibilidade, fui passo-a-passo.

Além de administrar esse estado interior de tensão, havia outro dado que para mim, dificultava tudo. Como profº Aníbal iria participar do cortejo do Auto, os trabalhos de monitoramento e orientações ficaram sob responsabilidade de profº Fernando, e ele nos orientou para fazermos a abordagem de uma forma mais firme, mais racional (no meu ponto de vista). E naquele momento eu estava mais sensorial do que racional..., essa orientação causou-me preocupação, pois eu deveria me ocupar além da escolha dos indivíduos que eu percebesse receptivo (de maneira bem prática), eu teria de atentar em não perder de vista profº Fernando, e evitar me afastar demais das minhas colegas; e também perceber auditivamente o momento do inicio do Auto, pois nós iriamos para o lado oposto ao cortejo. Então novamente o equilíbrio nos pratos da balança: razão e emoção. Foi um exercício difícil no inicio, mas gostei. No primeiro momento eu me perdi de profº Fernando e Camila, então tive que me decidir. Mantive as indicações de Fernando sobre os locais para a abordagem do grupo. Segui sozinha a caminho do outro ponto estabelecido no inicio pelas orientações de Fernando. No trajeto encontrei Evelyn e repassei a ela as coordenadas.

Da minha primeira abordagem, até mais ou menos à quinta, eu me deixei levar totalmente pela intuição, não utilizando muito minha visão periférica para a escolha das pessoas, eu apenas ‘senti’ e me permitia ir à direção que meu coração mandava. Estava me adequando ao espaço e também às sensações que eu deveria administrar dentro de mim. Fui realmente totalmente aberta para o ‘estado de jogo’, e devia o mais rápido possível, encontrar esse equilíbrio no Logos para eu poder pegar o time dos trabalhos naquela noite e também não me deixar abandonar unicamente aos sentimentos. Recordo que já por volta das 16h desse dia, eu já estava bastante tensa e interiormente receptiva ao ‘estado de jogo cênico’, como mencionei em conversa com a colega Evelyn, durante nossa ida à Pça. Frei Caetano Brandão. Ela também disse que algo semelhante aconteceu com ela.

E encarar as pessoas diretamente nos olhos era o que mais me preocupava. Senti-me como que vencendo um fantasma que sempre me cerca. Devido meu comportamento de não encarar muito os olhos das pessoas em primeiro momento, na maioria das vezes posso passar a impressão de ‘antipática’, ‘metida’, ‘esnobe’, ‘arrogante’, etc..., quando na verdade, trata-se apenas de timidez mesmo, que vai se dissipando aos poucos, assim que me acerco das pessoas, situações e de lugares novos onde adentro, deixo-me ir pelo meu tempo interior. Sempre fui muito observadora e prudente com as coisas/pessoas, sou bastante sensível e doso o que absorver para meu interior. Cuido de minha psique com o mesmo zelo com que cuido de meu corpo físico, é algo que pratico desde a infância, justamente por eu ser muito frágil a essas ‘energias’.

O fator DESPEDIDA, em minha abordagem ainda não estava definido. Como me permiti iniciar os trabalhos da noite unicamente pela intuição, foi incrível! Minha primeira aproximação (foto) me deu as respostas que eu precisava. Após a IMERSÃO do senhor, ele quis estabelecer conversa comigo sobre o que havia visto. Eu deixei. Então de sua própria fala conclui qual seria minha frase final e de efeito fixador do mini-espetáculo para as pessoas; e nisso decidi olhar diretamente nos olhos do espectador quando eu executasse a DESPEDIDA. Então derrubei todos os tijolos da parede... E realmente foi bastante emocionante esse contato com as pessoas. Posso dizer que depois da minha primeira apresentação, em 97% das demais, eu consegui tocar o publico como eu deveria. Foi lindo. E percebi que imediatamente cresceu um magnetismo no meu entorno, que em primeiro momento (literalmente) atraiu as pessoas para perto de mim. Várias delas queriam ver o espetáculo que eu carregava, e foi nesse instante que eu perdi de vista profº Fernando e a outra participante.

Nesse ponto agora, eu tive de administrar as coisas que mencionei em paragrafo acima: equilibrar emoção/razão; utilizar minha visão periférica e poder de decisão individual em prol dos trabalhos coletivos executados pelo grupo naquela noite. Graças a Deus isso se deu rápido. Acredito que o que me ajudou muito foram as orientações iniciais de Fernando, que falou de forma seca e sólida, suas palavras formaram a ancora que eu-atriz deveria manter firme para não me perder nos trabalhos.

Durante toda noite Fernando foi rígido comigo e com Evelyn, mas naquele momento, por mais que o achássemos antipático e implicante, eu particularmente compreendi o que ele queria, então também administrava as emoções dentro de mim em prol dos trabalhos da noite. Contudo, percebo que a sensibilidade de Aníbal durante as aulas faziam com que ele percebesse qual abordagem funcionava com as alunas. Recordo-me que na penúltima aula no atelier, ele e Fernando me bombardearam de perguntas de forma muito rígida e agressiva, e após perceber que não surtiu o efeito esperado, Aníbal gentilmente me disse: “tu não funciona dessa forma, não é?”. Eu apenas acenei com a cabeça prestes a chorar. Acho que depois disso Aníbal foi sempre mais delicado quando precisava me repassar algo por meio da Doxa.

Ele com seus anos de experiência de mestre, conseguiu estabelecer diálogo. E eu percebi que alcanço o amadurecimento necessário para meu oficio de atriz. Acho que se completou o ciclo que profª Karine Jansen me disse em avaliação final ainda no meu 1º ano no Técnico em Ator. Lembro-me que ela igualmente a Fernando, também me era muito rígida e demasiada exigente; gerando em mim uma certa antipatia e afastamento. Mas quando ela proferiu na frente de toda turma, sua avaliação em relação ao meu trabalho na peça "Tayo To Ame", que foi o seguinte (nunca esqueço): "Katiuscia já é 95% atriz...", eu segurei minhas lágrimas de emoção. Pois vindo dela tais palavras, pra mim significou muito. Ouvindo isso, achei que eu podia seguir adiante no ofício, que teria capacidade de continuar no caminho... Agradeço muito a Aníbal por mais essas experiencias. Elas me trouxeram uma visão mais ampla sobre mim mesma e enquanto compreensão da linguagem cênica, e também confirmou meu amadurecimento.


Outro momento que gostei muito, (mesmo contrariando as indicações de Fernando), foi quando Evelyn e eu jogamos simultaneamente. Apresentamos nosso suporte uma para a outra. Eu adorei ver minha colega atuando. Fomos generosas uma com a outra. Adorei perceber sua mudança corporal e facial, perceber e reconhecer sua energia cênica. O mesmo eu fiz para ela. E nós atores sabemos que nesse momento do ‘estado de jogo’ repassamos uns aos outros o que temos na bagagem sobre a nobre arte secreta da interpretação. Amei esse momento. Ficou no meu coração para sempre! E isso me fez recordar como um relâmpago outras passagens que tive com meus professores da Escola de Teatro. Estão todos no meu coração. É incrível, carregamos conosco essa espécie de herança que nos é repassada tipo de mestre para discípulo... O mesmo fiz com Camila após o término dos trabalhos da noite, por volta das 21h, por conta do toró que se abateu. Esse também foi um exemplo de fator externo e susceptível ao qual o artista quando se apresenta na rua está propenso: as adversidades naturais sempre nos fazem mudar os planos. Mas isso também faz parte do espetáculo.

Aqui finalizo meus Diários de Atividade acerca do método das IMAGENS DISPARADORAS estudadas durante as aulas do Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenado pelo profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.


Hellen Katiuscia de Sá.
13 de outubro de 2013, 17:57h.






terça-feira, 8 de outubro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES XI

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.




Durante a aula prática ocorrida no domingo último (29/09/2013) na Pça. da República (Belém/PA), dei inicio ao procedimento de ABORDAGEM, IMERSÃO e DESPEDIDA junto aos transeuntes. Os professores Aníbal e Fernando acompanhavam e observavam de longe minha aproximação com as pessoas. Em alguns momentos Aníbal, em reservado, interferia com suas falas explicativas orientando-me para questões pertinentes ao processo de abordagem. Além disso, questões técnicas também tiveram de ser resolvidas ali mesmo na hora, tais como o remanejamento da iluminação para outro ponto do meu suporte; também fui orientada a não utilizar óculos escuros (pois prejudicaria no momento do “contato” com o publico, e também eu deveria estar usando meus óculos, pois com minha miopia de quase 4 graus eu deixava passar muitas oportunidades para estabelecer contato com as pessoas...). Nesta aula prática eu também experimentava como manusear meu suporte.

Eu senti um leve medinho antes do inicio das abordagens; pois fazer Teatro Mambembe de rua difere do Teatro de Caixa (teatro em prédio fechado), bem como de Teatro de Arena, e de intervenções e performances. Mas esse tipo de Teatro de Animação em Suporte de Caixa cujo contato com as pessoas literalmente é bastante próximo, realmente foi minha primeira vez. E o que apavora o ator tímido (mesmo os experientes) é essa abordagem e aproximação LITERALMENTE cara-a-cara com o publico... tudo pode acontecer. Tudo é inesperado. Tudo é inusitado. O ator deve estar primeiramente ‘disponível’, ‘aberto’ para o ‘Jogo’. E também, já ter amadurecimento suficiente (ou ter uma baita cara-de-pau) para aproveitar as falas dos indivíduos para induzi-los ao objetivo, que são os passos seguintes do método estudado aqui – a IMERSÃO e DESPEDIDA. O ator também deve ser um ótimo ‘jogador’ para manusear e transformar as ‘energias’ de cena como bem entender.

E essa foi a primeira vez que eu não utilizei nenhum recurso de maquiagem como link psicológico indicando-me para mim mesma que eu não era eu, eu era a personagem. Acho que neste ‘jogo’ em particular, existia uma linha muito tênue mesmo com minha personagem, agora pela primeira vez de cara limpa enfrentando o púbico. O estranho que mesmo com essa tensão, havia um quezinho de serenidade em mim. Mas ainda devo superar outro ponto: encarar o palco olhando o mundo pelas lentes de meus óculos de grau... Em oito anos de atividades teatrais eu sempre vi tudo embaçado. Isso me ajudava bastante na hora de encarar o ofício de atriz. Mas acredito que já está na hora de me libertar disso também. Para quem já fez inúmeros trabalhos nus (o que é o terror para todo ator/atriz em principio), ver o mundo como ele é, não deve ser pior do que a tensão que experimentei na manhã deste domingo no parque...

Além disso, nessa mesma manhã eu era única aluna escoltada pelos professores Aníbal e Fernando, as demais alunas não foram por motivos particulares. O que me fazia sentir quase abandonada na cova dos leões... mesmo assim fui, com o coração na mão e a confiança em algum lugar no passado... Isso que eu chamo de jogar-se mesmo! Foi uma experiência sem precedentes. Depois da tensão, eu me senti como um anjo cego enviado por Deus num terreno desconhecido, a fim de levar um punhadinho de Luz aos corações abertos que queriam isso. Foi uma manhã poética para mim. E quando tudo terminou, eu ainda levava comigo o semblante das pessoas que se sentiam mais alegres ao contemplarem o que havia dentro de minha caixa. Foi reconfortante. Durante o restante do dia essas pessoas ainda estavam comigo. Foi lindo sentir isso tudo.

As reações das pessoas foram as mais diversas possíveis, mas em geral elas saiam felizes após assistirem a exibição do mini-espetáculo de animação dentro do meu suporte (então concluo que meu objetivo fora alcançado). A seguir relatarei as situações que mais me chamaram atenção e que contribuíram para a construção da fala de minha personagem, e também para estender o ‘Jogo Cênico’ com o publico, perceber o quê funciona e o quê não funciona. Lembrando que meu suporte é uma representação estilizada do Palácio dos Planaltos de Brasília/DF, com algumas imagens externas ao suporte que dialogam com o texto inicial de ABORDAGEM da minha personagem. E devido às reações das pessoas ao contato com esse tipo de teatro, abria-se para mim um ótimo momento para refletir sobre meu ofício enquanto encenadora. Então eu as observava e pensava: “o que eu tô fazendo aqui?”

SITUAÇÃO UM:
Três jovens (duas moças e um rapaz), estão parados em grupo, me olham e eu aproveito; aproximo-me e dou minha fala abrindo espaço para ABORDAGEM. Consegui a imersão dos três. Todos olharam no suporte (insistiram, até!), mas a DESPEDIDA não foi bem planejada. Eles ficaram tão interessados no que experimentavam que perguntavam o que era aquilo, então tive de me distanciar de minha personagem, e apenas lhes disse tratar-se de ‘Teatro de Animação em Caixa’, e nada mais. Contudo, queriam saber mais sobre esse tipo de teatro, eu apenas resumi como sendo mais uma modalidade de Teatro na contemporaneidade, e disse-lhes que minha apresentação era uma aula que eu estava tendo naquele momento, monitorada pelo meu instrutor. Eles responderam: “legal...”, então me despedi, com eles dizendo: “boa sorte!”. Nisso eu concluo que minha DESPEDIDA não foi a adequada ao jogo cênico, pois tive de me distanciar para explicar o que eu estava fazendo enquanto intérprete. Eu acho que naquele momento eu não devesse quebrar a Quarta Parede tão profundamente a ponto de abandonar minha personagem para responder às perguntas dos jovens... mas acredito que minha pré-disposição para docência burlou tudo, e eu me via no dever de responder ao interesse deles pela questão.


SITUAÇÃO DOIS:
Um casal parado num canto comendo algo... abordei a senhora, que (meu Deus!), apresentou-se totalmente apática. Não conseguiu adentrar no suporte, nem o quis. Mesmo com minhas tentativas de ABORDAGEM. A mulher parecia nem saber por que estava ali... não sabia nem por que nascera... foi bastante frustrante, mas dei-lhe bom dia, e segui. Enfim. Naquela manhã de domingo eu pude experimentar todo tipo de reação das pessoas. Mas desta senhora, confesso que a depressão dela quase se instalou no meu coração... tratei de diluir aquela energia, e tocar adiante. Eu percebi, que com uma abordagem direta como o publico, o artista da cena deve dosar estar ‘aberto’ para o contato, mas também saber se defender dessas ‘energias’ baixas e não se deixar contaminar com essas situações adversas. Eu achei que nesse tipo de teatro, é difícil manejar as ‘energias’ e estados disponíveis para a cena. Acho que, assim como Teatro Mambembe é um super exercício para o amadurecimento e manutenção psicológica e psíquica do ator, em variados aspectos, o Teatro de Animação em Caixa também o é, e exige muito do atuante desde o inicio de seu processo linguístico.


SITUAÇÃO TRÊS:
Uma dupla de amigos. Eles passaram por mim num dos corredores super populosos da praça. Havia barulho de bandinha tocando num coreto próximo, do outro lado ao longe, uma apresentação de brega (eu acho), só sei que o barulho e trafego de gente era infernal! Mas... um dos rapazes olhou favorável para meu suporte e para mim, então aproveitei a chance. Iniciei a ABORDAGEM; o moço estava igualmente aberto para a experiência, e olhou para dentro de meu suporte. Saiu mais feliz ainda de quando se interessou. Apertou-me as mãos, desejou-me um ótimo domingo com um lindo sorriso instalado no rosto. Sua energia foi contagiante! Acho que se demorasse mais um pouco haveria o momento dele me enfiar os braços sobre meus ombros e me arrastar pra tomar uma cerveja e bater um papo... de tão próximo que ele ficou de mim. Ele alcançou de imediato o que as imagens de dentro de meu suporte falavam. Mas foi engraçado.


SITUAÇÃO QUATRO:
Uma família (pai, mãe e um casal de filhos ainda garotos). O pai de família olhou para minha caixa, aproveitei a deixa e quando segui na sua direção, o homem foi tão espontâneo! Ele desesperadamente se esquivava dizendo: “Não! Não vem não. Afasta isso de mim... aí só tem ladrão...”. E ao nosso redor sua esposa e filhos se divertiam com a situação. Então eu aproveitei a própria fala e reação do homem para persuadi-lo a interessar-se em olhar dentro do suporte. Ele foi favorável, embora ainda bastante desconfiado. E foi interessante eu acompanhar a mudança tensa de postura corporal do homem e relaxamento do semblante dele em relação ao apresentado dentro do meu suporte. Eu confesso que esse foi, (de todos), o momento em que eu me emocionei de fato. Pois o homem estava visivelmente contrariado à minha ABORDAGEM. E vê-lo se transformar na minha frente, perceber seu rosto feliz e até mesmo com rascunhos de esperanças... Naquela manhã eu havia tocado alguém, e para mim, meu oficio enquanto artista da cena, valia à pena... não há nada comparado quando um artista consegue estabelecer esse ‘contato’ com alguém a ponto de fazê-lo mudar de paradigmas através de sua própria emoção, leitura de mundo e experiência sensorial quando ele (publico) consegue comunicar-se com o que está sendo apresentado pelo artista. Ocorre um ‘dialogo’, uma troca de experiências, de energias... Eu fiquei bastante feliz. Muito emocionada. Cumpri meu papel no mundo naquele ínfimo momento perdido no tempo e na memória de ambos.


Katiuscia de Sá
Escrito em: 30 de Setembro, 01, 04 e 08 de Outubro de 2013.
14:51h. *ouvindo “Warm Air” (Vanessa-Mae).