domingo, 13 de outubro de 2013

DIÁRIO DE ATIVIDADES – XII

[aulas de TEATRO DE ANIMAÇÃO EM CAIXAS - professores: Aníbal Pacha e Fernando]
*Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenação: Profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.

[minha primeira ABORDAGEM desta noite]

Na noite de 11 de Outubro de 2013, aconteceu a última apresentação publica do resultado dos trabalhos cênicos coordenados pelo profº Aníbal, com auxilio de profº Fernando. As alunas Evelyn, Camila e eu percorremos as adjacências do trajeto do Auto do Círio. Nossa atividade iniciou às 19h na Pça. do Carmo, e seguimos para Pça. Frei Caetano Brandão e Pça. do Relógio. Ainda com o intuito de colocar em prática o que me foi orientado realizar nas falas de Aníbal, durante meu primeiro contato com o publico (domingo – 29/09/2013, na Pça. da República). Esta seria minha primeira apresentação sem nenhum recurso de maquiagem usando meus óculos de grau, olhando diretamente nos olhos do publico numa abordagem realmente bastante próxima, corpo-a-corpo de fato. Essa seria a barreira última que eu deveria ultrapassar enquanto atriz... Para uma pessoa tímida, é como uma montanha a ser escalada para ver o sol despontando acima das nuvens, revelando um novo horizonte. Como escolhi experienciar a vida de modo que não violente minha sensibilidade, fui passo-a-passo.

Além de administrar esse estado interior de tensão, havia outro dado que para mim, dificultava tudo. Como profº Aníbal iria participar do cortejo do Auto, os trabalhos de monitoramento e orientações ficaram sob responsabilidade de profº Fernando, e ele nos orientou para fazermos a abordagem de uma forma mais firme, mais racional (no meu ponto de vista). E naquele momento eu estava mais sensorial do que racional..., essa orientação causou-me preocupação, pois eu deveria me ocupar além da escolha dos indivíduos que eu percebesse receptivo (de maneira bem prática), eu teria de atentar em não perder de vista profº Fernando, e evitar me afastar demais das minhas colegas; e também perceber auditivamente o momento do inicio do Auto, pois nós iriamos para o lado oposto ao cortejo. Então novamente o equilíbrio nos pratos da balança: razão e emoção. Foi um exercício difícil no inicio, mas gostei. No primeiro momento eu me perdi de profº Fernando e Camila, então tive que me decidir. Mantive as indicações de Fernando sobre os locais para a abordagem do grupo. Segui sozinha a caminho do outro ponto estabelecido no inicio pelas orientações de Fernando. No trajeto encontrei Evelyn e repassei a ela as coordenadas.

Da minha primeira abordagem, até mais ou menos à quinta, eu me deixei levar totalmente pela intuição, não utilizando muito minha visão periférica para a escolha das pessoas, eu apenas ‘senti’ e me permitia ir à direção que meu coração mandava. Estava me adequando ao espaço e também às sensações que eu deveria administrar dentro de mim. Fui realmente totalmente aberta para o ‘estado de jogo’, e devia o mais rápido possível, encontrar esse equilíbrio no Logos para eu poder pegar o time dos trabalhos naquela noite e também não me deixar abandonar unicamente aos sentimentos. Recordo que já por volta das 16h desse dia, eu já estava bastante tensa e interiormente receptiva ao ‘estado de jogo cênico’, como mencionei em conversa com a colega Evelyn, durante nossa ida à Pça. Frei Caetano Brandão. Ela também disse que algo semelhante aconteceu com ela.

E encarar as pessoas diretamente nos olhos era o que mais me preocupava. Senti-me como que vencendo um fantasma que sempre me cerca. Devido meu comportamento de não encarar muito os olhos das pessoas em primeiro momento, na maioria das vezes posso passar a impressão de ‘antipática’, ‘metida’, ‘esnobe’, ‘arrogante’, etc..., quando na verdade, trata-se apenas de timidez mesmo, que vai se dissipando aos poucos, assim que me acerco das pessoas, situações e de lugares novos onde adentro, deixo-me ir pelo meu tempo interior. Sempre fui muito observadora e prudente com as coisas/pessoas, sou bastante sensível e doso o que absorver para meu interior. Cuido de minha psique com o mesmo zelo com que cuido de meu corpo físico, é algo que pratico desde a infância, justamente por eu ser muito frágil a essas ‘energias’.

O fator DESPEDIDA, em minha abordagem ainda não estava definido. Como me permiti iniciar os trabalhos da noite unicamente pela intuição, foi incrível! Minha primeira aproximação (foto) me deu as respostas que eu precisava. Após a IMERSÃO do senhor, ele quis estabelecer conversa comigo sobre o que havia visto. Eu deixei. Então de sua própria fala conclui qual seria minha frase final e de efeito fixador do mini-espetáculo para as pessoas; e nisso decidi olhar diretamente nos olhos do espectador quando eu executasse a DESPEDIDA. Então derrubei todos os tijolos da parede... E realmente foi bastante emocionante esse contato com as pessoas. Posso dizer que depois da minha primeira apresentação, em 97% das demais, eu consegui tocar o publico como eu deveria. Foi lindo. E percebi que imediatamente cresceu um magnetismo no meu entorno, que em primeiro momento (literalmente) atraiu as pessoas para perto de mim. Várias delas queriam ver o espetáculo que eu carregava, e foi nesse instante que eu perdi de vista profº Fernando e a outra participante.

Nesse ponto agora, eu tive de administrar as coisas que mencionei em paragrafo acima: equilibrar emoção/razão; utilizar minha visão periférica e poder de decisão individual em prol dos trabalhos coletivos executados pelo grupo naquela noite. Graças a Deus isso se deu rápido. Acredito que o que me ajudou muito foram as orientações iniciais de Fernando, que falou de forma seca e sólida, suas palavras formaram a ancora que eu-atriz deveria manter firme para não me perder nos trabalhos.

Durante toda noite Fernando foi rígido comigo e com Evelyn, mas naquele momento, por mais que o achássemos antipático e implicante, eu particularmente compreendi o que ele queria, então também administrava as emoções dentro de mim em prol dos trabalhos da noite. Contudo, percebo que a sensibilidade de Aníbal durante as aulas faziam com que ele percebesse qual abordagem funcionava com as alunas. Recordo-me que na penúltima aula no atelier, ele e Fernando me bombardearam de perguntas de forma muito rígida e agressiva, e após perceber que não surtiu o efeito esperado, Aníbal gentilmente me disse: “tu não funciona dessa forma, não é?”. Eu apenas acenei com a cabeça prestes a chorar. Acho que depois disso Aníbal foi sempre mais delicado quando precisava me repassar algo por meio da Doxa.

Ele com seus anos de experiência de mestre, conseguiu estabelecer diálogo. E eu percebi que alcanço o amadurecimento necessário para meu oficio de atriz. Acho que se completou o ciclo que profª Karine Jansen me disse em avaliação final ainda no meu 1º ano no Técnico em Ator. Lembro-me que ela igualmente a Fernando, também me era muito rígida e demasiada exigente; gerando em mim uma certa antipatia e afastamento. Mas quando ela proferiu na frente de toda turma, sua avaliação em relação ao meu trabalho na peça "Tayo To Ame", que foi o seguinte (nunca esqueço): "Katiuscia já é 95% atriz...", eu segurei minhas lágrimas de emoção. Pois vindo dela tais palavras, pra mim significou muito. Ouvindo isso, achei que eu podia seguir adiante no ofício, que teria capacidade de continuar no caminho... Agradeço muito a Aníbal por mais essas experiencias. Elas me trouxeram uma visão mais ampla sobre mim mesma e enquanto compreensão da linguagem cênica, e também confirmou meu amadurecimento.


Outro momento que gostei muito, (mesmo contrariando as indicações de Fernando), foi quando Evelyn e eu jogamos simultaneamente. Apresentamos nosso suporte uma para a outra. Eu adorei ver minha colega atuando. Fomos generosas uma com a outra. Adorei perceber sua mudança corporal e facial, perceber e reconhecer sua energia cênica. O mesmo eu fiz para ela. E nós atores sabemos que nesse momento do ‘estado de jogo’ repassamos uns aos outros o que temos na bagagem sobre a nobre arte secreta da interpretação. Amei esse momento. Ficou no meu coração para sempre! E isso me fez recordar como um relâmpago outras passagens que tive com meus professores da Escola de Teatro. Estão todos no meu coração. É incrível, carregamos conosco essa espécie de herança que nos é repassada tipo de mestre para discípulo... O mesmo fiz com Camila após o término dos trabalhos da noite, por volta das 21h, por conta do toró que se abateu. Esse também foi um exemplo de fator externo e susceptível ao qual o artista quando se apresenta na rua está propenso: as adversidades naturais sempre nos fazem mudar os planos. Mas isso também faz parte do espetáculo.

Aqui finalizo meus Diários de Atividade acerca do método das IMAGENS DISPARADORAS estudadas durante as aulas do Projeto de Extensão “Teatro das Coisas – reaproveitamento material e imaterial do mundo”, coordenado pelo profº Aníbal Pacha/ ETDUFPA.


Hellen Katiuscia de Sá.
13 de outubro de 2013, 17:57h.






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